País de Harrington,ano 3447,dia 28,23h57min

 Annie sufocava a respiração para não ser descoberta pelo Roki,uma espécie de golem com armadura.Ela tinha usado muita magia para poder fugir dele o tempo todo durante duas semanas e meia,e suas forças vinham se esgotando desde então.




 Annie Charlotte Harrisen era uma maga usuária de magia negra e,nesse momento,fugitiva procurada com direito à recompensas por sua captura.Ela vinha,durante muito tempo,organizando as exportações de pergaminhos com feitiços proibidos e também era manipuladora da venda de itens perdidos no polêmico roubo feito em 1945 no castelo do Governador máximo do País de Quary,que se localiza à nordeste do País de Harrington.

 No dia de celebração dos 6 anos do filho mais novo do governador,Gufan,havia uma festa no castelo e toda a elite estava presente,sempre com seus hábitos fúteis e cheios de exageros.
 De repente,cerca de 495 ladrões armados de varinhas entram no salão principal onde todos estavam reunidos e furtam não só a maior parte do ouro dos convidados como também saqueiam a biblioteca com os feitiços proibidos e ainda acham os tais itens,que na verdade eram armas poderosas e que não podiam cair nas mãos erradas.
 Os ladrões usavam máscaras com o conhecido símbolo de uma serpente mágica chamada Yshat,que por anos aterrorizou os camponeses daquela parte do País de Quary,mas que fora exterminada pelo antigo governador.

 Pois bem,Annie mal podia caminhar entre os becos e sentia a presença de seu perseguidor Roki,que era totalmente diferente de todos com quem ela já lidara numa perseguição.Nem sua aparência infante,um ponto estratégico para esconder sua personalidade maleficamente poderosa,podia confundir um Roki do jeito que ela sempre conseguira confundir os outros.
 Os Rokis são servos sem alma e exímios caçadores,pois acham suas presas sentindo o poder deixado por elas,formando os rastros das batalhas.Saber desse detalhe só piorava a condição ridícula em que Annie se encontrava.Ela era muito conhecida por seu temperamento bruto e rigoroso no que dizia respeito às batalhas.

 -Péssima hora para eu deixar minha varinha no reparo...-Repetia Annie,zangada consigo mesma.O fato é que a sede por batalhas havia deixado ela sem a varinha,resultando na sua incapacidade de soltar magias complexas de fuga,como o teletransporte.Agora ela não possuía nem 20% de seu potencial mágico.

 Em uma de suas fugas,Annie estava sendo perseguida por um forte mago que tinha reservado seus serviços à um concorrente nos negócios dela.O perseguidor a desafiara para uma luta entre magos,e Annie nunca recusaria tal desafio.Mesmo vencendo,ela percebeu que tantas magias lançadas em uma só luta,que durara mais do que as lutas normais,havia desgastado sua varinha quase que completamente.
 Por isso,um de seus contatos no mundo do crime organizado deu-lhe o certificado de que repararia a varinha e que a entregaria em sua casa depois de meio mês,e é claro,depois de um bom e gordo pagamento.
A varinha reparada não chegara a tempo no esconderijo de Annie,no meio de uma floresta que ninguém frequentava.

 Annie recusava-se a parar de fugir,pois ela tinha conhecimento de que,se fosse pega agora,ela nunca mais veria a luz do dia,nem mesmo a falta de luz da noite.Aliás,não haveria mais nenhum outro dia de sua vida.Mas sua respiração começava a falhar,e seus olhos começavam a embaçar tudo a sua frente.
 Ela segurava um medalhão que estava preso em seu pescoço e relembrou de cenas,similares à este momento,no passado: sempre que ela se metia em algo perigoso,um conhecido aparecia para dar apoio ou até salvá-la,mesmo quando ela não aceitava ser salva.
 Contudo,Annie sabia que dessa vez ninguém viria para salvá-la, pois ela lembrava-se muito bem do dia em que todos estes parceiros morreram tentando protegê-la.E isso sempre fora motivo de sofrimento,que se iniciara no dia em que Annie Charlotte Harrisen nascera sob a forma de um imortal.

 Suas pernas,que até então tremiam sem parar,vacilaram e Annie foi ao chão de uma vez,para não levantar-se mais.Ela ergueu a cabeça e enxergou o céu da meia noite,com os olhos escarlate ainda vagos.Por mais que olhasse,Annie sabia que nada de bom viria de lá,uma vez que ela se abraçara à idéia de vilã.
 -Não consigo fazer mais nada,não posso fazer...-A fala interrompida significava que Annie finalmente fechara os olhos.

 O Roki conseguiu rastrear o beco onde Annie se escondera,e chegou até lá em instantes.Ele contemplou a figura de uma criança caída,os cabelos da cor do mais puro ouro deslizavam por sua face lisa e rósea.
O monstro sem alma pegou o frágil corpo com dificuldade,pois possuía dedos grossos e rochosos.Por fim,ele a segurou e notou que Annie ainda respirava,mesmo que muito pouco.Ele deu meia volta e a levou para seu mestre.