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24/03/2010
O Incrível Conto - Splendoor #29
País de Eura, ano 3802, dia 18, 06h57min
O mesmo sonho. As nuvens rastejando pelo céu em câmera lenta, uma suave brisa correndo por aqueles campos enormes. Nesse cenário magnífico, uma família diverte-se. A mãe carrega a pequena menina e a leva aos céus e o pai a abraça com carinho. Uma paisagem aconchegante.
E então, este maravilhoso sonho chega ao fim, e outro tem início. Dessa vez há um céu avermelhado simbolizando o final da tarde, com um chão de cor semelhante, devido ao sangue do pai e da mãe. Enquanto isso, a mesma menina está ajoelhada, cobrindo os corpos e chorando com profunda dor.
Essas duas lembranças deformadas associam-se a uma mesma pessoa: Ariel Heisenhoff, a menina de ambas as realidades.
- O mesmo de ontem. – As palavras escapam de sua boca em um sussurro. – Não mudou nada. – Ariel estava sentada em uma elegante poltrona, os olhos fechados, com algumas veias saltadas por perto, indicando algum tipo de anomalia.
A rica família Heinsehoff detinha muitas terras por todo o país, cujo sistema de posses dava-se por hierarquia. O filho mais novo da quinta geração chamava-se Rei Driel Yamett fur Heisenhoff. Ele casara-se com a filha de outro líder poderoso da época, cujo nome era Princesa Avidy Grean li Furani.
De sua relação surgiu a doce Ariel Ataesy Udon li Heinsenhoff, a única descendente do Rei. Era uma família alegre e unida.
Até o momento em que chegara às mãos de Driel um objeto muito cobiçado e perigoso. Um medalhão de bronze cheio de fuligem, exibindo um desenho incompleto do que parecia ser um olho avermelhado. E desde aquele dia o destino de Driel e sua esposa estava selado.
Após sua morte, toda a riqueza fora herdada pela filha do casal, embora ela fosse muito nova para cuidar dos assuntos de família. A partir daí ela receberia um tutor que a seguiria para sempre, e seu nome era Yessof.
- Senhorita, deseja degustar o café que o empregado acabou de preparar? – Yessof vestia-se tal como um mordomo e tinha uma expressão de obediência impecável. Seus olhos sempre fugiam dos de Ariel, por algum motivo. Por último, seu cabelo era curto e liso e seu rosto era limpo. Ele estava ajoelhado aos pés de sua ama.
- Apenas meia xícara, Yessof. Essas visões me deixaram sem apetite novamente. – Ariel continuava com os olhos fechados, as veias ainda saltadas. Suas vestes estavam levemente amassadas devido à sua posição. Ela dormia sentada todas as noites, esperando algo, ou alguém.
- Como desejar, senhorita. – Yessof retira-se daquele aposento e fecha a porta com um clique baixinho.
Desde que seus pais haviam morrido há sete anos, Ariel era uma garota séria e cheia de ódio. Seu coração ansiava apenas por vingança e ela nunca desistia de seus planos. E após um encontro, assim como seus pais, o destino dela estaria selado.
Atualmente, Ariel estava presa à sua poltrona por não poder mais andar devido a uma doença degenerativa. Apesar de tudo, ela abria os olhos às vezes. Eles eram azuis, de uma cor similar ao fundo do oceano. Seus cabelos eram brancos, longos e lisos, dignos da princesa que ela era.
Mas aquele azul perdera a cor há anos. E no meio de tantas complicações, apenas uma coisa motivava Ariel: a busca por poder. Desde que se tornara inválida por complicações passadas, a donzela procurava meios de restaurar sua vida.
Como no País de Eura as autoridades mais fortes são os Reis, Ariel logo teve de arranjar um marido após tornar-se a herdeira da família Heisenhoff. Ela, juntamente com Yessof, arranjou um casamento com o Rei Liam VI, um sujeito não muito poderoso em se tratando de riqueza ou popularidade.
Apenas uma fachada matrimonial, uma vez que Ariel decidiu não mudar seu sobrenome para o do marido. Liam faz parte de mais um plano dela, que se resume a deixá-lo com os problemas monetários e o Conselho.
O Conselho do País de Eura é nada menos que um grupo de homens veteranos que discutem como resolver as dificuldades. Seu aspecto é claramente político e eles agem apenas sob a ordem do Rei Liam, uma vez que ele é o aparente comandante da família Heisenhoff, a legítima líder do país.
- Aqui está, senhorita. – Yessof irrompeu o silêncio da sala. Então mandou à camareira que abrisse as janelas para iluminar aquela prisão escura. – Espero que não se importe, milady. As janelas parecem empoeiradas.
- Tudo bem, Yessof, não posso ficar adiando os serviços da camareira. Deixe que ela entre. – Neste momento, Ariel inclina a cabeça na poltrona e parece voltar aos seus pensamentos.
- Deseja algo mais, senhorita?
- Como vão as investigações?
- Oh, bem... temo que não haja novidades, milady. Contudo, novas informações devem chegar muito em breve. Não perca as esperanças, milady.
- Por favor, Yessof. Tudo o que me resta é a ambição. Coisas como desapontamento ou esperança estão perdidas no passado. – Não havia muito para notar na expressão de Ariel, mas ela estava aborrecida.
- Certo, senhorita, não cometerei o mesmo engano novamente. Com licença. – Yessof sentia pena do estado de sua ama e ficava preocupado com sua atitude dura, mas acima de tudo ele se orgulhava da força de vontade que ela mantinha a toda somente para seu próprio bem.
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